
A cobertura da eliminação do Boca Juniors da Taça Libertadores de 2009 foi sintomática do sentimento misto de admiração, rivalidade e temor que a imprensa brasileira nutre pelo futebol argentino.
Nos últimos anos, esta tendência de rivalidade futebolística entre Brasil e Argentina foi acirrada e estimulada por comentários de parte da imprensa esportiva brasileira que exalta "como é bom ganhar da Argentina" como se isto tivesse se convertido na conquista mais importante que é possível lograr no futebol, acima até de uma Copa do Mundo. O mesmo fenômeno sempre ocorreu entre equipes com grande rivalidade regional como Grêmio e Internacional, Flamengo e Vasco ou Palmeiras e Corinthians: há o campeonato em si e o campeonato de "um jogo só". Vencer o clássico contra o rival é tão importante quanto ganhar o campeonato.
Apesar da rivalidade poder ser considerada sadia dentro do futebol, desde que certos limites de respeito e pacificidade sejam observados, o fato é que gostamos de reclamar da "soberba" e "arrogância" argentinas como se nós próprios não ajudássemos a alimentá-la, ou como se também não fóssemos convencidos.
Afinal, se perdemos a Copa de 1998 não foi porque a França "jogou muito", e sim por causa do trauma causado na seleção pelo problema com Ronaldo, às vésperas da decisão. Nem mesmo a eliminação de 2006 foi suficiente para que reconhecamos que "gringos" como Zidane podem sim "acabar" conosco numa partida. A Hungria, de 1954, e a Laranja Mecânica de Cruyff e companhia, de 1974, são outros exemplos históricos.
Comemorar a saída do Boca Juniors da Libertadores quase como uma conquista de campeonato, afirmando que o caminho "ficou mais fácil" para os clubes brasileiros na competição é uma forma de demonstrar o quanto o futebol dos hermanos da plata nos impõe admiração e temor, mesmo que ostentemos o título de pentacampeões mundiais. Ora, se somos bons, não deveríamos temer ninguém, certo? Errado. Sentir temor e admitir que sente são sinais de grandeza.
A conclusão a que podemos chegar é que apesar de sermos reconhecidamente a escola de futebol mais vencedora internacionalmente, não faz mal nenhum admirar os méritos dos demais. Que bom que podemos reconhecer que a saída de um adversário de categoria pode ser benéfico para as pretensões das equipes brasileiras na Libertadores. Aliás, a comparação do gol de Nilmar com o gol do "pibe" na Copa de 1986 contra a Inglaterra é mais um sintoma de que estamos nos tornando mais maduros e aprendendo a apreciar os rivais. Mas ainda tenho vontade de perguntar: comparar logo com um gol do Maradona?! Por que não com os gols do Pelé? Assim não dá! Esses "comedores de bife de chorizo" vão ficar ainda mais metidos!