Em meio aos inúmeros (e ainda tímidos) protestos que se espalharam ontem pelo Brasil contra a corrupção, me senti estimulado a escrever sobre tema correlato: o preço da honestidade em nosso país.
Referindo-me especificamente à Administração Pública, vivemos em um país onde a honestidade pode custar caro, principalmente para aqueles que ocupam (ou ocuparam) altos cargos com poder decisório devido a critérios de competência, que não são políticos e que agem (ou agiram) única e exclusivamente pensando no bem comum da sociedade.
Os vícios congênitos que envolvem nossa complexa burocracia pública são tamanhos que, em muitas situações, exigir dos que estão no "topo da pirâmide" em termos decisórios que respondam pelos atos de todos que estão sob sua autoridade hierárquica pode ser injusto. É preciso examinar caso a caso, ser criterioso, porque muitas vezes uma simples assinatura não pode ser interpretada como um inquestionável ato de conivência com alguma improbidade cometida por algum subordinado.
Conheço histórias de pessoas probas que sempre agiram dentro dos mais elevados padrões de decência, que nunca cometeram um ato de corrupção e mantém até hoje um modesto padrão de vida (comparado ao que certamente teriam se fossem de fato corruptas). Mesmo assim, passaram anos de suas vidas tendo que prestar esclarecimentos e mais esclarecimentos aos órgãos fiscalizadores das diferentes esferas governamentais, como se fossem desonestas e criminosas.
Por serem pessoas com escrúpulos, esmeraram-se em se defender, conseguiram provar sua inocência e a não-participação em nenhum ato de improbidade, mas, por outro lado, ganharam mais cabelos brancos, além de doenças, tal o grau de aborrecimento ocasionado por aquelas suspeitas que, ao final, se mostraram infundadas.
Enquanto vários políticos agem sob o manto da impunidade, pessoas honestas são perseguidas implacavelmente, fragilizadas por darem valor às suas consciências e por não possuírem apadrinhamentos. São justamente as escolhidas para prestar contas porque - sabe-se - estarão empenhadas em provar sua inocência.
E assim la nave va. Vivemos sob a égide deste "macartismo tupiniquim" que persegue sistematicamente muitas pessoas que nada mais fizeram do que cumprir seu dever da melhor forma, enquanto os verdadeiros piratas do dinheiro público atuam à vontade, tendo apenas que suportar raros momentos de mobilização midiática e popular, com parcos reveses concretos (Cacciola já está livre!).
Imagem: http://carzem.blogspot.com/2009_01_01_archive.html.
2 comentários:
Reflexos de um espírito que serviu para criar a 8.666, meu caro Carlos Maurício. Esse certamente é o ônus mais caro que os gestores públicos devem enfrentar - o da desconfiança permanente. Suas palavras refletem a realidade.
Concordo Leopoldo! Esta mal-afamada lei, por desatualizada que está face a realidade do país e suas necessidades, gera um ambiente nada propício para a boa gestão da "res publica". Dependemos ainda da qualidade dos bons gestores que tentam fazer algo, mas sofrem com os constrangimentos institucionais.
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