segunda-feira, 30 de abril de 2012

O Maior Brasileiro de Todos os Tempos

QUEM FOI O MAIOR BRASILEIRO DE TODOS OS TEMPOS?
É esta a pergunta que o SBT vem fazendo, por intermédio de seu site (http://www.sbt.com.br/) em promoção divulgada na televisão.Senti-me estimulado a refletir sobre esta questão complexa. Quais os parâmetros para medir a importância de um personagem histórico ou contemporâneo? Quem foi, afinal, o brasileiro mais importante de nossa história?
O que me veio, em primeiro lugar, foi uma palavra: legado. Mas qual o legado realmente importante que se deve levar em conta? O legado político, moral, espiritual? Difícil responder, não?
Cinco nomes foram aqueles em que, de imediato, pensei. Confiei nos meus instintos, me vali desta primeira filtragem e dispensei outras possibilidades. Foram eles: Santos-Dumont, Machado de Assis, Oswaldo Cruz, Dom Pedro II e Tiradentes.
Apesar de sua dimensão inegável como o "Imperador Filósofo", o homem das artes e da ciência, e que governou o Brasil por mais tempo (49 anos) excluí Dom Pedro II em função de não ter logrado ajudar a combater e a abolir, antes de 1888, a escravidão no país (herança social maldita tão criticada por Joaquim Nabuco). Contou também a condenável participação de grande parte das forças militares brasileiras na Guerra do Paraguai (quando a população paraguaia foi praticamente dizimada, incluídas mulheres e crianças), em um combate desproporcional e covarde no qual se destacou a cruel participação de seu cunhado Conde D`eu, chefe militar no final do conflito, após a retirada de Caxias.
Quanto a Tiradentes, sem desprestigiar sua figura de mártir, vários historiadores demonstram que a construção de sua figura mítica está diretamente relacionada ao advento da República e à necessidade do novo regime de buscar heróis que servissem como contraponto à monarquia (afinal, Tiradentes fora morto pelos antepassados da Família Real brasileira). Tiradentes foi, sem dúvida, um mártir, mas não há como deixar de questionar se não foi também um "bode expiatório" por ter sido o único inconfidente enforcado, enquanto a outros, de origem mais "reconhecida" e abastada como Tomás Antônio Gonzaga, foi reservado "apenas" o desterro. Além disso, não podemos olvidar de outros mártires como a freira Ana Néri (assassinada por soldados portugueses durante as Guerras da Independência na Bahia) e os alfaiates da Conjuração Baiana de 1798.
Após descartar Dom Pedro II e Tiradentes, continuei com uma dúvida enorme, agora entre Santos-Dumont, Machado de Assis e Oswaldo Cruz. Neste "pódio particular" reparei que tinha reservado os três primeiros lugares para dois cientistas e um escritor. Machado, por sua qualidade literária, trajetória de vida e origem humilde, dispensa maiores explicações para ter esse lugar de honra reservado. Oswaldo Cruz, por todos avanços que atingiu na área médica e sanitária, e as resistências que sofreu para que suas descobertas fossem convertidas em políticas de saúde pública efetivas e universais também não podia ficar de fora.
Mas foi por Santos-Dumont que acabei por me decidir. Em termos de legado, suas descobertas são, sem dúvida, as de amplitude maior, de mais alcance universal. Por mais que os Estados Unidos insistam nos Irmãos Wright como os "pais da aviação", nós brasileiros sabemos, sem ufanismo, que a Santos-Dumont não pode ser negada, no mínimo, a mesma honria.
Em interessante livro, intitulado "Asas da Loucura", editado há poucos anos, o jornalista norte-americano Paul Hoffmann, resgata a figura de Santos-Dumont e a projeta para fora de nossa fronteiras, por meio de uma comovente apresentação de sua trajetória de vida. Paul Hoffmann assumiu a tarefa de "mostrar" Santos Dumont para os norte-americanos. Entre tantos comentários sensíveis sobre Santos-Dumont, o jornalista reconhece, em seu derradeiro e trágico ato que pôs fim à própria vida por conta de ter descoberto que os aviões haviam se transformado em máquinas de guerra, o clamor de indignação de um último idealista entre os inventores, um homem que, ao contrário dos Wright, jamais revelou intenção de patentear suas invenções e delas extrair benefícios econômicos pessoais. Para quem trabalha com propriedade intelectual, este dualismo entre "Wrights rentistas" e "Dumont romântico" soa idealizado e suspeito (preciso estudar melhor o assunto para ter opinião mais fundamentada) mas, mesmo assim, pelo legado universal, não pude deixar de me decidir por Santos-Dumont.
E vocês? Em quem votam? Suspeito tristemente que, em um país sem memória como o nosso, esses personagens serão pouco lembrados.  Aposto que ganha Pelé, Ayrton Senna ou Lula. Estão abertas as apostas!

P.s: Depois, me lembrei do Barão de Rio Branco (aliás, como professor de Relações Internacionais, como poderia esquecer?), sem quem o Brasil não teria resolvido os conflitos em torno de suas fronteiras de forma pacífica e que foi o maior responsável por fazer do Itamaraty uma instituição de excelência e profissionalismo no exercício da diplomacia do país, com enorme prestígio internacional. Ô escolha difícil!
Ao final, ficou assim meu "ranking":

Ranking:

1-     Santos-Dumont
2-     Machado de Assis
3-     Oswaldo Cruz
4-     Dom Pedro II
5-     Tiradentes
6-     Barão do Rio Branco
7-     Carlos Chagas
8-     Irmã Dulce
9-     Villa-Lobos
10- Ayrton Senna