sábado, 30 de agosto de 2008

Salvem o Paissandu!


Os últimos dias foram marcados aqui no Flamengo por notícias de fim do Cinema Paissandu. Desmentidos dos atuais proprietários ontem nos jornais dão conta de que o cinema não irá acabar, mas esta ainda não é uma informação confirmada. Torçamos para que este recanto importante do cinema autoral e anti-mainstream sobreviva. Por ter sido sempre um berço de intelectuais e de acalorados debates culturais é importante que o Paissandu sobreviva. O Rio precisa de vida cultural cosmopolita, diversificada e alternativa. Quanto a mim, que moro ali bem pertinho, seria uma tristeza ver o Paissandu fechar e virar Igreja Evangélica ou algo assim. Não quero nem pensar: saem os filme de Godard, Truffaut ou o bom cinema latino-americano e entram os berros histéricos das sessões de descarrego e exorcismo. Eu que digo: Deus me Livre!!

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Reflexos da Inocência


Ontem fui assistir um filme fantástico, intitulado "Reflexos da Inocência" (Flasbacks of a Fool em inglês). É um filme singelo, com um roteiro nem tão original, mas tocante pela atuação dos atores, a concepção estética e a trilha sonora (Roxy e David Bowie na veia!!). Daniel Craig é sem dúvida um excelente ator. Vendo o filme, não deixa de ser perturbador pensar como uma simples decisão tomada ainda quando somos adolescentes pode marcar nossa vida para sempre, e a de outros também. Vejam e depois comentem!!

Religião e Política: uma mistura que não dá certo


Na última pesquisa Datafolha para a prefeitura do Rio de Janeiro, 37% dos entrevistados afirmaram que jamais votariam em Marcelo Crivella. É, de longe, o candidato com maior nível de rejeição. Os números demonstram que o carioca não aprova a mistura entre religião e política. Vivemos num Estado laico e, portanto, não devemos permitir que o Estado seja impregnado de qualquer fé em particular. Vamos observar o comportamento do eleitorado carioca que parece ter se mantido equilibrado neste ponto até o momento.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Quadro de medalhas: espírito olímpico?


As Olimpíadas de Pequim estão chegando na sua reta final e, mais uma vez, os países começam a comemorar ou lamentar seus desempenhos nos jogos. Existe de fato um "espírito olímpico" ou, na realidade, as Olimpíadas se transformaram, primordialmente, numa competição acirrada entre governos de diferentes Estados interessados em firmar a superioridade de suas políticas, ancorados no rendimento de seus atletas? Acho que não há resposta simples para tal pergunta. O espírito olímpico existe de fato e o enxergamos no desprendimento de certos atletas de países em desenvolvimento como o Brasil que, sem apoio financeiro, abdicam de tudo pelo simples prazer de participar dos jogos. Por outro lado, não há como ignorar uma importante dimensão política nos jogos, isto sem contar o lado dos negócios e do marketing que rende milhões. Quanto vale hoje em dia associar uma marca à Michael Phelps? Qual o valor que ele agrega a uma marca? É assustador conhecer as cifras, que se arriscam hoje na casa dos bilhões de dólares.

Quanto ao Brasil, além da conhecida falta de apoio do governo e das empresas privadas a muitos dos nossos atletas, é impressionante como o preparo psicológico ficou a desejar em diversos momentos, prejudicando o rendimento dos atletas tupiniquins. Espero "queimar minha língua" e ver as meninas do vôlei ganharem o ouro, mas o despreparo psicológico delas em outras ocasiões permite que o público brasileiro fique sim com um "pé atrás".

Finalmente, acho interessante o "efeito ilusório" desse quadro de medalhas. Um país que se especializa em alguns esportes pouco populares, mas que rendem muitas medalhas, como tiro, arco e flecha, esgrima, etc, podem ficar à frente de outros países como o Brasil que rendem mais em esportes coletivos como futebol e vôlei, mais populares mundialmente e com mais países competindo por medalhas. É justo que a medalha de um canoista valha a mesma coisa que uma medalha no futebol? Mesmo no atletismo, uma lançador de martelo deve ter o mesmo peso que um time inteiro de basquete? Acho que não, mas também não tenho sugestões de outros critérios para a famigerada contagem de medalhas (ilustração de uma realpolitik pura).

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Brasil e Paraguai: irmãos até que ponto?


Nesta última sexta, Fernando Lugo tomou posse como novo presidente do Paraguai. Uma chama de esperança se acendeu sobre toda a sociedade paraguaia, justificadamente, depois de décadas e décadas de domínio autoritário colorado. O perfil do novo Presidente, integrante de movimentos eclesiais de base, faz parte dos especialistas crer que a "guinada à esquerda" será inevitável. Contudo, para o novo presidente, garantir a governabilidade só será possível mediante coalizões e entendimentos com forças políticas tradicionais, em boa parte conservadoras. Além disso, a questão do aproveitamento dos recurso hídricos de Itaipu e da pretensão paraguaia de rever as cláusulas do Acordo de 1979 com o Brasil, representará um desafio adicional não só para o Governo Lugo como para a nossa diplomacia. Espero que o Brasil aja com prudência, pragmatismo e generosidade. Lugo sofrerá uma forte pressão interna para agir contra o "imperialismo brasileiro". Caberá ao Itamaraty não se deixar contaminar pelo radicalismo de certos setores da opinião pública paraguaia e igualmente evitar os afãs nacionalistas exarcerbados que virão da imprensa e de setores oposicionistas do Brasil que, pensando nos parâmetros da velha realpolitik, certamente acusarão o governo Lula de servilismo. Conceder sim. Subjugar-se? Claro que não. Se o Brasil quer exercer alguma liderança regional em bases positivas, deverá priorizar o pensamento à longo prazo, sem renunciar à preservação dos interesses brasileiros.
Só me resta dizer, como filho de um paraguaio com uma brasileira, apaixonado pelos dois países, que espero que Brasil e Paraguai se entendam e que um dia construam um sentimento de irmandade real, que vá muito além dos interesses econômico-comerciais.

domingo, 17 de agosto de 2008

É Doce Morrer no Mar


Morreu Dorival Caymmi. O aspecto singelo e lúdico de suas letras e melodias embalou gerações e gerações. Quanto a mim, tive sempre no querido Dorival uma espécie de "anti-paradigma" da globalização, um homem que fez do "bom ócio" uma filosofia de vida. Numa época em que somos cada vez mais solicitados a sermos "produtivos", um dos exemplo de Dorival é o de que podemos sim estarmos nesta vida "a passeio" e nem por isto deixarmos de ser responsáveis ou renunciarmos ao nosso sucesso pessoal. Afinal, o sucesso é um estado de espírito e se o meu se aproximar um dia daquele do querido "algodão" embalado na rede, cantando para o mar, já me sentirei um homem realizado. Tinha um bonequinho de cerâmica do Dorival na minha mesa de trabalho, quando trabalhava como Coordenador Universitário em Niterói. Funcionava como um espécie de "guru" quando, diante de alguma situação de conflito, era tentado a me preocupar em excesso com a busca de uma solução. Coincidência ou não, na última sexta pela manhã, meu filhinho quebrou o boneco que tinha há vários anos. Foi-se o meu boneco e também se foi o poeta, o cancioneiro, que cantou e decantou a Bahia a todos os cantos.

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Dom Casmurro


Resolvi semanas atrás reler Dom Casmurro, depois de um longo período, quando o li no ginásio. Fiquei emociado ao reconhecer nas passagens do livro cenários tão familiares para quem mora no Rio de Janeiro: a Lapa, o Passeio Público, a Glória, a Praia do Flamengo. Por ser morador destas cercanias, não pude deixar, após ler o livro, de tentar me transportar para aquela época, na medida em que passava por algum destes cenários. Mesmo sem querer, acabei me apiedando do pobre Bentinho...seria ele fraco psicologicamente, apenas uma mente perturbada pelo ciúme, ou de fato Capitu o traiu? A resposta nunca será conhecida e é exatamente nisto que reside o brilho e o charme do romance do velho bruxo do Cosme Velho.