terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Link com Notícia sobre Ataques de Israel à Faixa de Gaza

Sugiro aos leitores que acessem a notícia "Relator da ONU se diz chocado com inação da comunidade internacional na Faixa de Gaza". Acessem o endereço http://oglobo.globo.com/mundo/mat/2008/12/30/relator-da-onu-se-diz-chocado-com-inacao-de-comunidade-internacional-sobre-gaza-587731335.asp.

Genocídio na Faixa de Gaza

O argumento de Israel de que a ação injustificável do Hamas de lançar foguetes e morteiros sobre o território israelense é a grande responsável por sua reação militar dos últimos dias, se assemelha ao do lutador profissional de vale-tudo que, agredido na noite com um tapa por um valentão leigo em artes marciais, resolve reagir utilizando todos os seus recursos e habilidades, mandando o brigão para um CTI de hospital. É pena constatar que, em meio às reações de repúdio de toda a comunidade internacional, novamente Washington presta solidariedade à Israel. Enquanto se sentir respaldado moralmente pelos Estados Unidos para fazer o que bem quiser, Israel continuará agindo à margem das leis internacionais. Israel sabe muito bem que jamais receberá uma condenação real do Conselho de Segurança da ONU, pois os Estados Unidos, utilizando seu poder de veto, impedirão qualquer tentativa do organismo de impor sanções efetivas de caráter comercial e militar às suas ações absurdas. Alguém consegue imaginar uma força de paz da ONU na região da faixa de Gaza e da Cisjordânia? É fato: Israel age como um "protetorado" americano numa área estratégica do ponto de vista geopolítico e econômico para a grande potência militar do planeta. Diante desta constação, soa fraco o velho argumento da soberania ameaçada. Resta o que já sabemos: força imperial e hipocresia.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Para corroborar a postagem anterior..

De forma apenas a corroborar a mensagem anterior, trascrevo coluna de Diogo Mainardi, publicada na Revista Veja, de 17 de dezembro de 2008, e disponível on line no endereço http://veja.abril.uol.com.br/idade/exclusivo/171208/mainardi.shtml.

E MACHADO VIROU CIRCO.....

Sub título: "A série Capitu tem um aspecto circense. É Machado de Assis encenado por Orlando Orfei. É Bentinho imitando Arrelia no picadeiro de Fausto Silva: ‘Como vai, como vai, vai, vai? Eu vou bem, muito bem, bem, bem’".

Texto:

Machado de Assis é Bentinho. Nós somos Capitu. A analogia é simples: nós abastardamos a obra de Machado de Assis. No centenário da morte do escritor, Dom Casmurro e seus outros romances perderam qualquer sinal de paternidade machadiana. Eles parecem gerados por Escobar, o amante de Capitu.

Luiz Fernando Carvalho, diretor da série televisiva Capitu, é o mais perfeito Escobar que surgiu até agora. Seu "Dom Casmurro" tem o nariz de Luiz Fernando Carvalho, tem o sorriso de Luiz Fernando Carvalho, tem a mentalidade de Luiz Fernando Carvalho. Nada nele recorda o "Dom Casmurro" de Machado de Assis, apesar de reproduzir diálogos do romance. Na série, Bentinho aparece estranhamente caracterizado como Dick Vigarista, do desenho animado Corrida Maluca: nas roupas, no bigode, na magreza, no temperamento e, acima de tudo, na canastrice do ator que desempenha seu papel. Qual é o melhor candidato a Muttley? O agregado José Dias.

A série Capitu tem um aspecto circense. É Machado de Assis encenado por Orlando Orfei. É Bentinho imitando Arrelia no picadeiro de Fausto Silva: "Como vai, como vai, vai, vai? Eu vou bem, muito bem, bem, bem". Luiz Fernando Carvalho usa uma linguagem grotesca, afetada, espalhafatosa, cheia de contorcionismos e de malabarismos. Machado de Assis é o oposto. No livro Dom Casmurro, o relato de Bentinho é espantosamente seco e desencantado. Ele narra sua história apenas para combater o tédio: sem drama, sem sentimentalismo, sem teatralidade. Quando Bentinho descobre que o filho bastardo de Capitu com Escobar morreu de febre tifóide, ele comenta simplesmente: "Apesar de tudo, jantei bem e fui ao teatro".

Luiz Fernando Carvalho só foi autenticamente machadiano na metalinguagem. A atriz que interpreta Capitu está grávida de se-te meses. Quando um repórter lhe perguntou se o pai do menino era Luiz Fernando Carvalho – o Escobar de Jacarepaguá –, ela se recusou a responder, limitando-se a declarar, como uma Capitu do funcionalismo público: "Não vou dizer a identidade e o CPF dele".

A literatura brasileira tem um escritor. Um só. O que fizemos com ele, nos últimos cinqüenta anos, foi traí-lo com todos os Escobar que apareceram. Desde que Helen Caldwell, em 1960, negou o adultério de Capitu, moldando Dom Casmurro às suas teorias feministas, Machado de Assis foi raptado pela crítica esquerdista. Em particular, por John Gledson e Roberto Schwarz, que o transformaram ridiculamente num agente da luta de classes, empenhado em denunciar os abusos da classe dominante. Na realidade, Machado de Assis é mais complicado do que isso. Ele é um satirista conformista e resignado, que zomba da mesquinhez de nossa sociedade e acredita que, quando ela muda, muda sempre para pior. A série Capitu festeja o abastardamento da obra machadiana. Machado de Assis sabe bem: de agora em diante, isso só pode piorar.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

"Sobre Capitu" (ou "Revirando Machado na Tumba")


Passados dois capítulos da minissérie "Capitu", da Rede Globo, já é possível dar uma opinião abalizada sobre a adaptação televisiva deste que, talvez, seja o mais célebre romance da literatura brasileira: "Dom Casmurro", de Machado de Assis.

O que se constata é que, infelizmente, o estilo conhecido de Luiz Fernando Carvalho (um diretor cunhado por parte da crítica como “autoral"), que procura conferir às suas obras uma estética própria e kitsch, pretensamente sofisticada, nada mais faz do que desperdiçar a chance de chamar a atenção dos jovens para a obra fantástica do "Bruxo do Cosme Velho".

Esta pode ser uma opinião purista ou conservadora, é verdade. Mas é impressionante como a Globo, notória pela sua capacidade de realizar reconstruções de época, desperdiçou uma valiosa oportunidade de popularizar Machado. O pretenso intelectualismo do estilo "ópera bufa/rock brechó", as infindáveis licenças musicais e visuais (uma Capitu tatuada?) e a interpretação exageradamente teatral de boa parte do elenco (porque as pessoas não podem falar de uma forma normal?) servem apenas para entediar o "espectador médio", não "iniciado" em Machado. A série de Luiz Fernando Carvalho não é nem uma produção de época nem uma releitura moderna: fica num limbo difícil de compreender.
Há pouco tempo, "Primo Basílio", de Eça de Queiroz, foi adaptado pelo cinema brasileiro para época diferente do romance e para a realidade brasileira. Atualmente, Wagner Moura brilha numa versão contemporânea de "Hamlet" nos palcos de São Paulo. Só que, nestes casos, não há a confusão conceitual que existe em "Capitu". Acrescente-se que tanto Eça, quanto (principalmente) Shakespeare já foram muitas vezes adaptados para o teatro, cinema ou televisão. Em relação aos dois, há uma boa cota de produções "tradicionais" já realizadas que justificam a verve criativa dos que realizam releituras que procuram fugir do lugar comum. Mas este não é o caso de Machado, ignorado anos a fio pela televisão. Quando, finalmente, surge uma oportunidade de adaptar pela primeira vez seu grande romance para este veículo tão poderoso, a Globo confere esta responsabilidade a um diretor que se preocupa mais com a "sua" leitura e com a "sua" linguagem do que com o gosto do público e o mundo original do escritor. Penso em Jane Austen e nas brilhantes adaptações da BBC para os seus romances. Por que não aprendemos um pouco com os que sabem fazer um bom trabalho? Não. Preferimos a criatividade autoral e a licenciosidade poética do diretor em detrimento da fidelidade à obra. Infelizmente, para muitos dos que assistirem ao “Dom Casmurro” de Luiz Fernando Carvalho, a impressão sobre a obra machadiana será a última (e provavelmente a única) que ficará.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

O Último de uma Espécie em Extinção


Há alguns dias, O GLOBO publicou uma entrevista com o ex-treinador da seleção brasileira, Carlos Alberto Parreira, em que o mesmo declarou que, atualmente, o futebol brasileiro carece de um "camisa 10", ou seja, daquele organizador de jogadas, o jogador que dita e cadencia o ritmo de jogo, aos moldes de grandes do passado como Didi, Gérson, Rivelino, Sócrates, Zico, etc. De fato, esta é uma espécime cada vez mais rara de se encontrar em nossos estádios. Mas discordo do treinador quando afirma que não há nenhum jogador com tais atributos. Alex, do Internacional, pode ser considerado o "último dos moicanos" num cenário realmente empobrecido em termos técnicos. Alex é um sopro de esperança para o futebol do país e da seleção porque resgata e afirma o típico modo brasileiro de jogar, com objetividade, eficiência, técnica e beleza. Sabe antever a jogada, enxergar o cenário de uma partida, aproveitar as lacunas de marcação. Além disto, é dotado de muitos recursos. Sabe bater pênaltis e faltas, lançar e chutar (de longe e de perto), com alto índice de aproveitamento. Torço para que Alex logo se afirme na seleção. Precisamos de um jogador com tais características para a próxima Copa.