sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

AS LÁGRIMAS DA PRESIDENTE DILMA



Há poucos dias, a Comissão Nacional da Verdade (CNV) divulgou, em evento solene em Brasília do qual participou a Presidente Dilma e parentes das vítimas perseguidas pelo regime militar de 1964-1985, o resultado de quase três anos de trabalho: um longo relatório detalhado, com os nomes de 377 agentes de estado apontados como responsáveis e partícipes dos crimes contra humanidade e abusos legais cometidos pela ditadura. Não obstante o mandato da Comissão a obrigasse a tratar do período de 1946 a 1988, foi o período 1964-1985 que mereceu maior atenção, por razões óbvias.  
Em visível estado de comoção, Dilma chorou ao lembrar dos companheiros de luta, mortos, torturados e perseguidos pelos militares. Demonstrou para muitos, naquele momento, uma faceta sensível e humana, pouco conhecida da opinião pública. Mereceu aplausos por parte dos presentes, solidários à demonstração pública de dor e sensibilidade, afastando-se da costumeira imagem de “dama de ferro” ou “gerente da nação”.
Em seu discurso, Dilma procurou, ainda, enfatizar que o objetivo do trabalho desenvolvido pela Comissão não foi o de promover o revanchismo. Em suas palavras, “a busca da verdade histórica é forma de construir democracia e zelar pela sua preservação, Verdade não significa revanchismo e não deve ser motivo para ódio. Verdade liberta, produz consciência, aprendizado, conhecimento e respeito”.
O que, efetivamente, há por trás das lágrimas da Presidente? Seus colaboradores e admiradores se comoveram por conta da humanidade cosmopolita e do espírito universalmente democrático que elas supostamente encerraram. Seus opositores e detratores lhes questionaram a sinceridade.
Os dois lados estão equivocados. O choro da Presidente Dilma foi bastante sincero. Contudo, suas motivações estão bem distantes das causas altruístas e humanitárias que seus correligionários e entusiastas tentaram lhe atribuir.
Dilma chorou por conta de uma esperada e compreensível sensação de empatia e solidariedade em relação aos companheiros tombados, especialmente os que, como ela, estiveram na luta armada.
Dilma chorou em função da frustração, nas mãos dos militares, do projeto político que ela e seus companheiros das organizações Colina e VAR-Palmares tinham para o Brasil: o de transformação do país em uma república socialista, uma ditadura do proletariado, aos moldes castristas, maoístas ou stalinistas.
Dilma chorou pela derrota da utopia que defendia nos anos 60, impregnada de um objetivo tão moralmente superior (promover a justiça social no Brasil) que foi capaz de fazer com que vários grupos pegassem em armas, realizassem atentados, assaltos a bancos, seqüestros de embaixadores, deixando pelo caminho cadáveres de militares como o do soldado Mário Kozel Filho, 18 anos, morto por uma explosão com bomba no Quartel General do II Exército, em São Paulo, ou civis mutilados, como o guarda Sebastião Tomaz de Aquino, o “Paraíba”, ex-jogador de futebol do clube Santa Cruz, que perdeu uma perna em atentado à bomba no Aeroporto dos Guararapes, no Recife. Foram percalços inevitáveis na via nobre de propósitos que os combatentes do regime militar percorriam.
Dilma chorou porque acredita até hoje que estava investida de um mandato digno e divino quando pegou em armas para combater os militares. Quando os insurgentes recorreram às armas foi porque os militares praticamente as colocaram em suas mãos e não deixaram escolha. A vida de nada valia para os militares. Por isso, era preciso seguir a mesma cartilha para fazer-lhes frente. Era necessário matar, seqüestrar, roubar e disseminar o medo, mesmo na população civil. E com tranqüilidade na consciência, pois quando a esquerda pega em armas faz revolução. A esquerda não é golpista nem terrorista.
Talvez Dilma tenha chorado até pelas 126 pessoas mortas pela luta armada, segundo números divulgados recentemente pelos clubes Naval, Militar e da Aeronáutica. Foram mártires inevitáveis, baixas necessárias levadas ao glorioso altar do sacrifício revolucionário, cujas memórias honram as enormes provações pelas quais seus companheiros passaram. E que passam até hoje, como nas perseguições que levaram combativos colegas para a Papuda.
Sim, as lágrimas da Presidente foram sinceras. Obtusos, frios, insensíveis e reacionários são os integrantes da elite oposicionista, aqueles que ousam questionar a humanidade que elas revelaram e cobrar do governo menções expressas e reconhecimentos públicos de supostos erros e excessos que os integrantes da luta armada cometeram. Não sabem esses ignorantes inimigos do povo que a nobreza de propósitos, o furor revolucionário e a crença nas utopias os eximiu para sempre de qualquer responsabilidade ou culpa por seus atos?