quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

A Arte de Ser Avó (Rachel de Queiroz)


Deixo aqui um texto de Rachel de Queiroz que fala um pouco das sensações de ser avó. A minha abuela teve essas sensações multiplicadas por vinte e sete vezes ao longo da vida, fora as experimentadas com os bisnetos:


A Arte de ser Avó - Rachel de Queiroz


Quarenta anos, quarenta e cinco. Você sente, obscuramente, nos seus ossos, que o tempo passou mais depressa do que esperava. Não lhe incomoda envelhecer, é claro. A velhice tem suas alegrias, as sua compensações – todos dizem isso, embora você pessoalmente, ainda não as tenha descoberto – mas acredita.
Todavia, também obscuramente, também sentida nos seus ossos, às vezes lhe dá aquela nostalgia da mocidade.
Não de amores nem de paixão; a doçura da meia-idade não lhe exige essas efervescências. A saudade é de alguma coisa que você tinha e lhe fugiu sutilmente junto com a mocidade. Bracinhos de criança no seu pescoço. Choro de criança. O tumulto da presença infantil ao seu redor. Meu Deus, para onde foram as suas crianças? Naqueles adultos cheios de problemas, que hoje são seus filhos, que têm sogro e sogra, cônjuge, emprego, apartamento e prestações, você não encontra de modo algum as suas crianças perdidas. São homens e mulheres – não são mais aqueles que você recorda.
E então, um belo dia, sem que lhe fosse imposta nenhuma das agonias da gestação ou do parto, o doutor lhe põe nos braços um menino. Completamente grátis – nisso é que está a maravilha. Sem dores, sem choro, aquela criancinha da sua raça, da qual você morria de saudades, símbolo ou penhor da mocidade perdida. Pois aquela criancinha, longe de ser um estranho, é um menino que se lhe é “devolvido”. E o espantoso é que todos lhe reconhecem o seu direito sobre ele, ou pelo menos o seu direito de o amar com extravagância; ao contrário, causaria escândalo ou decepção, se você não o acolhesse imediatamente com todo aquele amor que há anos se acumulava, desdenhado, no seu coração.
Sim, tenho a certeza de que a vida nos dá os netos para nos compensar de todas as mutilações trazidas pela velhice. São amores novos, profundos e felizes, que vêm ocupar aquele lugar vazio, nostálgico, deixado pelos arroubos juvenis.
Aliás, desconfio muito de que netos são melhores que namorados, pois que as violências da mocidade produzem mais lágrimas do que enlevos. Se o Doutor Fausto fosse avô, trocaria calmamente dez Margaridas por um neto…
No entanto! Nem tudo são flores no caminho da avó. Há, acima de tudo, o entrave maior, a grande rival: a mãe. Não importa que ela, em si, seja sua filha. Não deixa por isso de ser a mãe do neto. Não importa que ela hipocritamente, ensine a criança a lhe dar beijos e a lhe chamar de “vovozinha” e lhe conte que de noite, às vezes, ele de repente acorda e pergunta por você. São lisonjas, nada mais. No fundo ela é rival mesmo. Rigorosamente, nas suas posições respectivas, a mãe e a avó representam, em relação ao neto, papéis muito semelhantes ao da esposa e da amante nos triângulos conjugais. A mãe tem todas as vantagens da domesticidade e da presença constante. Dorme com ele, dá-lhe banho, veste-o, embala-o de noite. Contra si tem a fadiga da rotina, a obrigação de educar e o ônus de castigar.
Já a avó não tem direitos legais, mas oferece a sedução do romance e do imprevisto. Mora em outra casa. Traz presentes. Faz coisas não programadas. Leva a passear, “não ralha nunca”. Deixa lambuzar de pirulito. Não tem a menor pretensão pedagógica. É a confidente das horas de ressentimento, o último recurso dos momentos de opressão, a secreta aliada nas crises de rebeldia. Uma noite passada em sua casa é uma deliciosa fuga à rotina, tem todos os encantos de uma aventura. Lá não há linha divisória entre o proibido e o permitido, antes uma maravilhosa subversão da disciplina. Dormir sem lavar as mãos, recusar a sopa e comer croquetes, tomar café, mexer na louça, fazer trem com as cadeiras na sala, destruir revistas, derramar água no gato, acender e apagar a luz elétrica mil vezes se quiser – e até fingir que está discando o telefone. Riscar a parede com lápis dizendo que foi sem querer – e ser acreditado!
Fazer má-criação aos gritos e em vez de apanhar ir para os braços do avô, e lá escutar os debates sobre os perigos e os erros da educação moderna…
Sabe-se que, no reino dos céus, o cristão defunto desfruta os mais requintados prazeres da alma. Porém não estarão muito acima da alegria de sair de mãos dadas com o seu neto, numa manhã de sol. E olhe que aqui embaixo você ainda tem o direito de sentir orgulho, que aos bem-aventurados será defeso. Meu Deus, o olhar das outras avós com seus filhotes magricelas ou obesos, a morrerem de inveja do seu maravilhoso neto!
E quando você vai embalar o neto e ele, tonto de sono, abre um olho, lhe reconhece, sorri e diz “Vó”, seu coração estala de felicidade, como pão ao forno.
E o misterioso entendimento que há entre avó e neto, na hora em que a mãe castiga, e ele olha para você, sabendo que, se você não ousa intervir abertamente, pelo menos lhe dá sua incondicional cumplicidade.
Até as coisas negativas se viram em alegrias quando se intrometem entre avó e neto: o bibelô de estimação que se quebrou porque o menino – involuntariamente! – bateu com a bola nele. Está quebrado e remendado, mas enriquecido com preciosas recordações: os cacos na mãozinha, os olhos arregalados, o beicinho pronto para o choro; e depois o sorriso malandro e aliviado porque “ninguém” se zangou, o culpado foi a bola mesma, não foi, vó? Era um simples boneco que custou caro. Hoje é relíquia: não tem dinheiro que pague.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Tchau Abuelita querida!



Há momentos da vida em que os fatos mais tristes possíveis se precipitam com uma força que parece que não podemos controlar, e de fato não temos como.


Perdi hoje minha avó querida, e parte do meu coração se foi em definitivo com ela. É isto que acontece quando alguém especial se vai: parte de nós vai embora também, para sempre. Morremos um pouco a cada perda.


Já são apenas lembranças a risada fácil, o humor malicioso e descontraído, a percepção aguçada, a língua atenta e ferina, a moral inabalável e bondosa, os gestos e palavras de carinho, a personalidade forte e guerreira, o espírito festeiro, o carisma e a alma de mãe, mãe dos Ardissone, tão órfãos neste momento, cientes da falta que farão a sua presença e a sua inesquecível e agregadora alegria.


A vida aprontou-lhe algumas. Por vezes, foram os negócios. Outras, foram as preocupações corriqueiras de esposa, mãe, avó, bisavó - quase tataravó. As perdas do amoroso companheiro e de um dos seus sete filhos foram duras provações colocadas diante de si no caminho. Testaram a sua fortaleza.


Tal qual no poema de Drummond, suas retinas fatigadas jamais lhe permitiram esquecer que no meio dos seus caminhos existiram muitas pedras, enfrentadas com amor, credulidade e coragem.


E eis então que você, sempre tão presente e marcante, já não está mais aqui. Como alguém tão forte, insistente e constante pode, de um momento para outro, dar-nos uma rasteira e ir embora? Dirão os prontos a consolar: "Ela teve uma vida longa, movimentada e feliz! Foi-se em paz ao lado dos seus!", como se isso pudesse explicar a trapaça que nos pregou desnudando sua falsa e pretensa imortalidade.


Devo agora me contentar com a avó da memória e espero que esta nunca me falhe, para que eu sempre conserve mi abuelita o mais próximo que puder de mim. Foi-se a Pastora, mas fica para sempre comigo a Chuchi querida e amada. Como disse Bandeira: "Encerra em ti tua tristeza inteira. E pede humildemente a Deus que a faça. Tua doce e constante companheira".

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Músicas para curtir...e sentir


Nesta última semana, por razões várias, resolvi gravar um CD com algumas músicas para que meu filho escute um dia. Talvez esta iniciativa faça parte de uma visão pretensiosa de pai de querer deixar um legado inesquecível para o filho, um legado imaterial. A cronologia das músicas segue mais ou menos a cronologia da vida. Espero que algum dia ele as escute, ainda que não goste e nem venha a se interessar em continuar a escutá-las, com a vontade e a dedicação que eu idealizei. Aliás, não quero que, destas músicas, ele extraia nenhuma "lição de vida", mas somente sensações, sentimentos. Afinal, é de sentimentos que nos movemos, são eles que nutrem a alma. Tomara que ele goste! E vocês também! P.s: a lista contém o nome da músicas e dos intérpretes das gravações que escolhi, não os nomes dos compositores.


LISTA:


1) O Filho que eu quero ter – Toquinho
2) Forever Young – Rod Stewart
3) Todo Menino é um Rei – Nelson Rufino
4) Amigo do Sol, Amigo da Lua – Benito de Paula
5) Coração de Estudante – Milton Nascimento
6) Bola de Meia, Bola de Gude – 14 Bis
7) Brincar de Viver – Maria Bethânia
8) I Don´t Wanna Grow Up – Ramones
9) People are Strange – The Doors
10) Mais uma Vez – Renato Russo
11) You`ve Got a Friend – James Taylor
12) Canção da América – Milton Nascimento
13) Ain`t no Moutain High Enough –Marvin Gaye e Tammi Terrell
14) O Mundo é um Moinho – Beth Carvalho
15) Father and Son – Cat Stevens
16) Father to Son – Phil Collins
17) Perhaps Love – Plácido Domingo e John Denver
18) All You Need is Love – The Beatles
19) Crazy Little Thing Called Love - Queen
20) Popstar – João Penca e seus Miquinhos Amestrados
21) Climmie Fischer – Love Changes (Everything)
22) Ela me faz tão Bem – Lulu Santos
23) Deixe a menina – Chico Buarque
24) You´re Gonna Loose That Girl – The Beatles
25) Ela disse Adeus – Paralamas do Sucesso
26) Pois é – Los Hermanos
27) Como Dizia o Poeta – Vinícius de Moraes e Toquinho
28) Amor pra Recomeçar – Frejat
29) Não Olhe pra Trás – Capital Inicial
30) Saber Amar – Paralamas do Sucesso
31) Enquanto Houver Sol – Titãs
32) Desesperar Jamais – Ivan Lins e Beth Carvalho
33) Smile – Tony Bennet
34) Tendo a Lua – Paralamas do Sucesso
35) Tudo que Vai – Capital Inicial
36) Tente Outra Vez – Raul Seixas
37) O Velho e o Moço – Los Hermanos
38) Sometimes You Can´t Make It On Your Own – U2
39) Perfect –Simple Plan
40) Envelheço na Cidade – Ira!
41) Encontros e Despedidas – Milton Nascimento
42) Everybody Hurts – REM
43) Stop Crying Your Heart Out – Oasis
44) Pais e Filhos – Legião Urbana
45) Darklands – Jesus and Mary Chain
46) Todo Carnaval tem seu Fim – Los Hermanos
47) O que é, o que é? - Gonzaguinha
48) Epitáfio – Titãs
49) Somewhere Over the Rainbow – Jason Castro
50) Como uma Onda – Lulu Santos

domingo, 10 de janeiro de 2010

Para um dia ter o que dizer


Nos últimos dias, por razões várias, estive pensando muito no que gostaria de dizer ao meu filho no dia em que formos mais velhos e em que ele vier me pedir alguma palavra ou conselho sobre algo relacionado a sua vida.


Lembrei-me então de três músicas que tratam exatamente da relação entre pai e filho e, mais especificamente, do que um pai gostaria de dizer nessas horas.


São elas "Father and Son" de Cat Stevens, "Forever Young", de Rod Stewart, e "Brincar de Viver" de Guilherme Arantes (interpretada por Maria Bethânia). Cada uma, ao seu estilo, tem algo que gostaria de dizer. A primeira trata de um diálogo entre pai e filho, quando este último já diz se sentir pronto para "ganhar o mundo" por suas próprias pernas. Já a outra aborda simplesmente o desejo que todo pai tem para o futuro do seu filho e da confiança que se quer transmitir na vida, no futuro e nas pessoas. Finalmente, a terceira segue o mesmo espírito da anterior.


FATHER AND SON






FOREVER YOUNG





BRINCAR DE VIVER

Vídeo em http://www.youtube.com/watch?v=fO2OMVmF3GU

Letra em http://letras.terra.com.br/maria-bethania/47218/


Imagem em http://ak2.static.dailymotion.com/static/video/270/882/2288072:jpeg_preview_large.jpg (Rod Stewart e seu filho, no clip).

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Bem Vindo Feijão!!!



Hoje a familia acaba de receber um novo membro, o Feijão, filhote de pug, todo pretinho, de peito branco. Minha irmã sempre quis ter um cachorro e finalmente conseguiu convencer meus pais. O feijão chega num momento um pouco conturbado, mas com certeza receberá muito amor e carinho. Seja bem vindo Feijão!! Já te amamos muito!!! Não vou morar com você, mas quando puder vou te levar para passear!