sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Trabalho, Praia e o Rio


Recentemente, me dei conta do quanto às vezes é um desperdício viver numa cidade como o Rio de Janeiro e não ter a oportunidade de usufruir de tudo o que ela tem a nos oferecer, por conta dos compromissos profissionais e pessoais inúmeros que nos tomam o tempo. O Rio é uma cidade, tal qual Paris e outras capitais, que nasceram com vocação para o cosmopolitismo, para a diversidade, e isto se reflete em sua efervescência cultural.


Interessante foi uma conversa que tive indo para o Leblon hoje de manhã, de táxi. O motorista comentou como os turistas não entendem o número abudante de pessoas na praia em dias de semana, como que insinuando que os cariocas não trabalham. Contestei-lhe com uma pesquisa publicada recentemente no Globo, que demontrava cabalmente que o carioca é um dos brasileiros que mais trabalha. De fato, acho que nós cariocas trabalhamos muito. Mas me refiro ao número de horas que o carioca trabalha. categoricamente, não posso falar o mesmo da qualidade das horas trabalhadas. Mas a despeito deste aspecto da discussão, o fato é que o carioca trabalha muito mesmo. Pensando agora, ainda não respondemos ao enigma: quem afinal de contas são essas pessoas que estão curtindo a praia?


segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Lan Houses: oportunidade de inserção ou mero passatempo?


Ontem, durante o Fantástico, foi veiculada uma matéria interessante sobre o crescimento do número de lan houses no Brasil. Hoje, calcula-se que elas são cerca de 90 mil. A reportagem enfocou o caso de um ex-porteiro de São Paulo que, interessado em melhorar seu padrão de vida, largou o emprego para investir em uma pequema lan house no bairro de periferia onde mora. O negócio prosperou e, hoje, ele está construindo uma bela casa nova para morar e conseguiu ampliar seu empreendimento.


Está aí um caso positivo de inserção social através da internet. Mas eu me pergunto: será este caso uma regra ou uma exceção? Pelo perfil do rapaz, pela entrevista que escutei, me pareceu alguém com uma visão diferenciada e que soube explorar um novo nicho de mercado para conseguir realização. Mas terão todos os rapazes de periferia a mesma visão e capacidade?

Acredito que não. Salvos exceções como o ex-porteiro da reportagem, em sua maioria os clientes de lan houses, nas periferiras ou nos bairros mais nobres, são pessoas ociosas - por opção ou não - muito mais interessadas em ler e passar scraps no orkut do que em estudar, trabalhar ou tentar um empreendimento para buscar, através do conhecimento digital, uma oportunidade de melhor inserção pessoal e profissional.
Iludem-se aqueles que pensam que o conhecimento gerado pela internet e pela eletrônica pode substituir a educação formal das escolas e universidades. Ao contrário, penso que corremos sério risco de fazer crescer uma geração de "analfabetos virtuais" que só se preocuparão com a rapidez e a agilidade do conhecimento, em detrimento do saber mais profundo e especializado. Claro que há aspectos positivos gerados pela globalização da comunicação, mas as múltiplas possibilidades que ela oferece não podem prescindir da educação formal. É com ela que este "novo tipo de conhecimento" poderá ser filtrado e melhor utilizado. Enfim, com o conhecimento formal das escolas e universidades e com a cultura geral que adquirimos ao longo da vida, temos mais condições de separar o joio do trigo na internet, ou seja, de selecionar as informações de boas e más qualidade e procedência.


Deus, proteja os pobres inocentes, por favor.


Mais um caso de criança violentada e morta no Estado do Paraná – é o quarto no espaço de apenas duas semanas – e as autoridades públicas não demonstram um mínimo sinal de revolta ou de que alguma providência realmente séria está sendo tomada. Não consigo deixar de pensar no drama que estes inocentes passaram e na dor de seus pais. Para piorar o quadro, alguns destes crimes foram cometidos por ex-presidiários que conseguiram utilizar-se das benesses de nossa lei antiquada para conseguir a liberdade ou por presidiários que simplesmente escaparam da prisão e estavam por aí, à solta, misturados às pessoas de bem. Aonde vamos parar meu Deus? Estamos à mercê de animais que podem a qualquer tempo fazer mal aos nossos filhos e o Estado simplesmente não existe. No momento em que qualquer um destes monstros é preso, sempre há um psicólogo que se apressa em qualificá-lo como inimputável, ou seja, em afirmar que se trata de um louco que não sabia o que estava fazendo para que, assim, seja penalizado com uma internação em um sanatório ou algo do gênero. Não consigo concordar com isto. O mal existe sim e parece que os psicólogos não querem concordar com isto. E ele nos espreita de bem perto. Temos somente que rezar para que sejamos protegidos, assim como os nossos. Se formos esperar pelo Estado, nada teremos de garantia.

Apesar de formado em Direito, tenho minha crença contra a pena de morte cada vez mais enfraquecida por estes eventos brutais. O raciocínio é simples: se algumas pessoas são más por natureza e, portanto, intrinsicamente irrecuperáveis, porque o Estado deve arcar com os custos de sua existência dentro de uma prisão? Por que os impostos pagos pelos cidadãos de bem devem ajudar a sustentar estes seres que cometem crimes bárbaros? Ora, se o própósito da prisão - em tese - é reabilitar o preso e se alguns deles não são passíveis desta reabilitação porque manter os gastos com a sua permanência na prisão? Sei que é uma discussão muito complexa, mas a sociedade brasileira deve enfrentá-la e a melhor forma de fazer isto é por um plebiscito. Dirão os contrários à pena de morte que só negros e pobres serão condenados no Brasil. Dirão também que nosso sistema prisional mais brutaliza do que reabilita os presos. Pode ser verdade. Mas algo deve ser feito e ainda que nosso sistema judiciário e criminal um dia se aprimore e alcance - sei lá - o nível dos países nórdicos, continuarei achando injusto que determinados criminosos continuem a viver "protegidos" ainda que no marco dos muros prisionais, enquanto que suas vítimas tiveram suas vidas extirpadas de forma bárbara, por vezes ainda na infância.

Imagem: Quadro “Saturno devora seus filhos”, de Hieronymus Bosch (Museu do Prado, Madri).

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Parabéns para mim!



Hoje completo 36 primaveras! Já estou quase na "idade do lobo"..he..he..he. Dia de reflexão, de recebr chamadas, de sair para comemorar. Já tenho desta vida o melhor presente de todos, uma família linda, razão da minha existência. Além disso, tenho meus amigos, o que seria da vida sem eles?

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Lula e Obama: uma comparação pertinente?




A eleição de Barack Obama para a Presidência dos Estados Unidos conseguiu mobilizar justificadamente não só a opinião pública norte-americana, mas a opinião pública internacional. Em todo o mundo, Chefes de Estado, a mídia, intelectuais, artistas e uma ampla gama de pessoas das mais diferentes culturas, em todos os recantos do globo, demonstraram interesse e satisfação pelo resultado do pleito presidencial que levou ao poder o primeiro presidente afro-americano.
Não poderia ser diferente. De fato, a eleição de Obama representa, para muitos, uma esperança renovada de humanização das relações internacionais. Espera-se que o malfadado legado da administração George W. Bush no campo da política internacional – caracterizado pelo unilateralismo nos organismos internacionais, pelo belicismo das guerras preventivas no Oriente Médio e pela ignorância do direito internacional - seja definitivamente sepultado em prol de uma inserção mais democrática, multilateral e cosmopolita dos Estados Unidos na diplomacia global. A expectativa é a de que ainda que não venha a se concretizar uma inflexão significativamente benigna no padrão de atuação internacional norte-americano, dificilmente o novo governo conseguirá bisar o desastroso papel desempenhado por seu antecessor na arena internacional.
Além disso, a ascensão ao poder de Obama coroa simbolicamente a história de luta pelo reconhecimento dos direitos civis dos negros nos Estados Unidos. Foi emocionante assistir em meio à multidão que testemunhou o discurso da vitória proferido por Obama em Chicago, as lágrimas do pastor Jesse Jackson, figura proeminente, ao lado de Martin Luther King Jr. e outros, da luta dos negros norte-americanos contra o preconceito racial, até a década de 60 institucionalizado em diversas regiões dos Estados Unidos, especialmente nos Estados do sul.
Em meio a esse cenário de alegria e esperança renovadas, chamou atenção aqui no Brasil declaração do Ministro da Fazenda Guido Mantega de que a trajetória política de Obama se assemelharia bastante à de nosso Presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, pelo fato de ambos provirem de segmentos sociais historicamente excluídos e também em função de que, a despeito das dificuldades enfrentadas, os dois conseguiram superá-las com suas vontades e méritos pessoais. A partir desta declaração, cabe o questionamento: será esta comparação pertinente? Procede a afirmação de que as trajetórias de Obama e Lula são semelhantes?
A princípio, parece que sim. Com efeito, tanto Obama quanto Lula possuem um carisma capaz de mobilizar multidões, o que é reconhecido até por seus adversários. Ambos precisaram superar dificuldades expressivas para atingir os postos de principais mandatários de seus países. Não há como negar que cada um dos dois enfrentou obstáculos consideráveis para alcançar a realização na política. Mas no caso do mandatário brasileiro, a superação da pobreza foi seu grande desafio de vida. Já em relação ao recém eleito presidente dos Estados Unidos, foi o preconceito racial que impôs constrangimentos e barreiras ao seu percurso, antes de conseguir se tornar advogado por Harvard e, posteriormente, político de prestígio. Portanto, enquanto Lula precisou superar barreiras sócio-econômicas, Obama teve que enfrentar obstáculos de natureza étnico-cultural.
Dessa forma, podem ser relativizadas as semelhanças entre Obama e Lula. Obama teve em seu país oportunidades de formação acadêmica e profissional, negadas ao nosso Presidente. Obama pôde crescer num ambiente sócio-familiar próspero o suficiente para, a despeito do preconceito racial imanente, conferir-lhe oportunidade de estudar até se tornar advogado por uma das universidades mais reconhecidas nos Estados Unidos e em todo o mundo.
Já Lula, por incrível que pareça, se aproxima muito mais da figura de um self made man - um daqueles muitos conceitos que importamos dos Estados Unidos - do que o próprio Obama. Lula teve que aprender “na escola da vida”, como faz questão de mencionar por vezes, ainda que tal afirmação seja interpretada por alguns como uma atitude de desdenho pela educação e de inveja dos doutos. Foi a partir do exercício de sua atividade sindical, partidária e legislativa que aprendeu os caminhos da política, com suas armadilhas, obstáculos e atalhos. Lula não teve opção: a falta de educação formal teve que ser compensada de alguma forma pelo valor da experiência na vida pública, a mesma experiência que opositores de Obama afirmam que ele não tem para enfrentar os imensos desafios que se afiguram no campo econômico.
Conclui-se que, apesar da relativa impropriedade da comparação realizada pelo Ministro da Fazenda, ela não é de todo incorreta. Tanto Lula quanto Obama são considerados protagonistas históricos de momentos de mudança que seus dois países demandam. A despeito das inclinações pessoais que possamos ter simpáticas ou não a Lula e a Obama, o fato é que somos testemunhas oculares da atuação de dois líderes que conseguiram se afirmar no seio político em virtude das transformações extraordinárias experimentadas no manto social de seus países nas duas últimas décadas. No caso do Brasil, a eleição de Lula foi resultado, em grande parte, de mudanças importantes no tecido social e da ascensão e maturação política de segmentos expressivos do eleitorado que cresceram na democracia. Quanto aos Estados Unidos, a mentalidade social e cultural de respeito à diversidade que ajudou a eleger Obama foi estimulada pelo crescimento da capacidade de mobilização de parcelas significativas de imigrantes hispânicos, asiáticos e árabes e de minorias étnicas, sociais e culturais – além dos afro-americanos - que conseguiram se articular qualitativamente no american way of life. Isto não sem lutas e percalços e apavorando os conservadores, como Samuel Huntington. Mas sempre ancorados em ações afirmativas, como a polêmica política de cotas, que lhes possibilitaram uma melhor inserção social. Como balanço desta comparação, o único que resta a qualquer um de nós é desejar que tanto Lula quanto Obama consigam satisfazer, pelo menos em parte, as amplas expectativas que geraram. O futuro dirá o lugar que ocuparão na história.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Yes, We Can


Chamem-me de idealista, ingênuo, utópico. Chamem-me de sentimental, romântico, e até de chorão. Mas confesso que o dia de ontem foi daqueles que vai marcar minha vida para sempre. Era difícil evitar a comoção. As palavras do discurso de vitória do Senador Obama entravam pelo meu ouvido, na medida em que lágrimas tímidas de felicidade escorriam pela minha face. Não sei ainda precisar exatamente o que me moveu a ficar acordado toda a madrugada, acompanhando ansiosamente as projeções da CNN e os resultados da eleição que saíam, Estado por Estado. Mas, no momento do triunfo, da certeza da vitória, senti-me irmanado a milhões de pessoas nos Estados Unidos e em todo o mundo que viram reacendidos em si mesmas os sentimentos de fé e de esperança na humanidade. A oratória ao mesmo tempo calma e eloqüente do político afro-americano/havaiano - agora transformado em mandatário da principal potência do planeta - me fez recuperar a crença numa globalização um pouco mais justa e includente, na multipolarização das relações diplomáticas, no respeito às leis e instituições internacionais, enfim, na pujança de uma sociedade civil internacional mais organizada e capaz de sensibilizar e humanizar os homens de Estado. Vão-se embora os revanchismos conservadores, preconceitos irracionais e belicismos raivosos. Entram em cena a disponibilidade pelo diálogo e o respeito à diversidade. Talvez seja tudo isso mera conjectura de um "coração mole". Talvez o excesso de expectativas seja logo atingido pelo pragmatismo invencível da política. Talvez nenhuma das esperanças de melhoria na economia mundial e nas relações internacionais se concretize. Mas Obama chegou lá. Mais importante do que isto, o que ele simboliza chegou. E isto já faz toda a diferença.

P.S: Este não é um texto escrito com a pena de uma acadêmico e sim com a do coração.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

A Noviça Rebelde



Neste fim de semana, fui assistir o musical "A Noviça Rebelde", no teatro "Oi Casagrande", aqui no Rio. Simplesmente espetacular! A montagem é incrível e não deve a nenhum espetáculo da Broadway. "A Noviça Rebelde" foi um filme que marcou minha vida, e já devo ter assistido mais de dez vezes, desde quando o assisti a primeira vez na infância, numa reprise em um cinema aqui do Rio (o "Cine Ópera" que, aliás, nem existe mais). O desempenho de Kiara Sasso como Maria em nada deve ao de Julie Andrews e todo o elenco do espetáculo está bem, inclusive Saulo Vasconcellos, barítono que susbtituiu Herson Capri no papel do Capitão Von Trapp. Destaque também para o soprano Mirna Rubim, como a madre superiora do convento em que Maria se prepara para ser freira. Mas todo o elenco está fabuloso. Quem puder assistir, não perca! O espetáculo não é dos mais baratos, mas você sai do teatro feliz por ter gasto, sabendo que foi um dinheiro bem empregado. Nesse mundo cheio de maldade, um pouco de leveza e alegria vai muito bem. Para os de "Sampa", sei que o espetáculo vai estrear em março de 2009.
Abaixo, segue artigo da crítica teatral Bárbara Heliodora, publicado no Globo em 22 de maio. A crítica é famosa por seu gosto impecável e pelo alto grau de exigência (e certa rabugice):
"A Noviça Rebelde": Um espetáculo encantador e agradável ao ouvido
Usando o texto do original para teatro e não o roteiro do filme, “A noviça rebelde” em cartaz é exemplar, emociona, diverte, deixa todo mundo de bom humor. A trama é uma romantização da história da família Von Trapp, com base em alguns episódios verdadeiros. Os autores foram dos primeiros a encontrar a fórmula para o verdadeiro musical americano, no qual a música se integra na ação dramática, faz caminhar a ação e, ao mesmo tempo, embala ouvidos e corações. Particular atenção merece a fluência da tradução de Cláudio Botelho, já um especialista no gênero.
A montagem usa lindos cenários, de Rogério Falcão, mas não se trata de clone: marcas, andamentos e tons são nacionais, dentro dos limites de liberdade que o musical permite; os figurinos de Rita Murtinho são ótimos, e a luz de Paulo César Medeiros, a não ser por pequenos tropeços de estréia, é de grande categoria. A direção musical é de Cláudio Botelho e Marcelo Castro, que rege a orquestra com grande contribuição para o sucesso.
A Madre Superiora de Mirna Rubim se destaca.
A direção de Charles Möeller é leve e elegante, com um belo trabalho com o grupo infantil, sempre natural e, ao mesmo tempo, impecavelmente disciplinado. Seu manifesto carinho para com os musicais colore todo o trabalho, cuja alegria envolve a platéia. Em um espetáculo como “A noviça rebelde”, é difícil avaliar contribuições individuais, já que o conjunto do espetáculo é o que fica na memória. Mas, sem dúvida, o conjunto das freiras e, principalmente, a Madre Superiora de Mirna Rubim estabelecem desde logo a qualidade vocal do conjunto. Os sete filhos do Capitão estão encantadores e de um profissionalismo impecável; Dudu Sandroni e Ada Chaseliov estão corretos; Bruno Miguel defende bem o jovem Rolf; a Baronesa de Solange Badim tem a voz e a elegância adequadas ao papel, enquanto o Max de Fernando Eiras é uma criação divertida que dá vida à cena. O Capitão de Herson Capri é competente e elegante, e Kiara Sasso tem linda voz e se integra muito bem com as crianças. É impossível falar de todo o elenco, a não ser para dizer que o conjunto está mais do que satisfatório.
“A noviça rebelde” é um espetáculo encantador, lindo, agradável ao ouvido, e mostra mais uma vez que, quando se quer trabalhar com amor, o teatro brasileiro pode alcançar níveis de qualidade excepcionais."
Quem quiser ler outras críticas, acessehttp://divulgandotap.wordpress.com/category/a-novica-rebelde/.