segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Tropa de Elite 2 e as Eleições Presidenciais de 2010


Assisti Tropa de Elite 2 e fiquei, como a maioria das pessoas, extasiado pelo requinte e qualidade da produção, e também pela engenhosidade do roteiro e atuação dos atores, com destaque para Wagner Moura (sempre) e os surpreendetes Irandir dos Santos e Sandro Rocha. Assim como muitos, não pude deixar de me atemorizar com a situação do meu querido Rio que o filme retrata e, principalmente, com a declaração do diretor José Padilha de que a realidade é ainda pior. Fui obrigado a concordar com ele, tristemente.


Mas o que me chamou mais atenção no filme foi outro aspecto presente na história: o da possibilidade de homens, a despeito de suas fortes crenças, se aproximarem de forma respeitosa e empática, e trabalharem juntos em prol de uma causa comum.


Esses dois homens são Nascimento e Fraga. Eles se odeiam. Politicamente, são pólos diametralmente opostos. Sua convicções políticas e ideológicas não poderiam ser mais distantes. Para Nascimento, "bandido bom é bandido morto". Para Fraga, a culpa exclusiva da criminalidade está nas injustiças sociais, na corrupção, na exploração do homem pelo homem.


Nascimento odeia Fraga e pejorativamente o chama de "Che Guevara". Para piorar, Fraga casou com sua ex-mulher e ainda exerce influência na educação de seu filho, com quem Nascimento tem dificuldades de se aproximar. Nada poderia separar mais esses dois homens, com crenças tão fortes e arraigadas.


Mas quando a tomada de consciência de Nascimento começa a se dar, quando passa a enxergar a podridão do "sistema" que antes não conseguia identificar, ele dá o primeiro passo: entrega a Fraga a prova material capaz de dar um golpe duro no meio fétido que recém descobrira. Nascimento continua discordando de Fraga, mas identifica naquele homem, que sempre vira com desprezo e até ódio, alguém capaz de ajudá-lo, alguém capaz de fazer algo que ele, nas circunstâncias em que se encontrava, precisava fazer mas não tinha condições.


Fraga, ao invés de questionar e duvidar do gesto de Nascimento, aceita-o. E dá início às denúncias que levam os dois, ao final, em cena incrível, a ocuparem o mesmo ambiente e promoverem juntos a denúncia necessária para atingir os corruptos e o crime organizado instalado na máquina pública.


Temos dois homens que pensam diferente e que não deixaram de possuir suas crenças mas, que numa inesperada atitude de respeito e de comunicação empática, encontram um canal comum para dialogar. É no momento que se dá este reconhecimento recíproco que a animosidade violenta e cega desaparece para dar lugar à tolerância pela diferença. Ela gera frutos que fazem com que parte do "sistema" seja desbaratado, ainda que a luta (inglória) contra a corrupção endêmica na Administração Pública esteja longe de terminar.


Dilma e Serra, ou melhor, o PT e o PSDB, bem como seus apoiadores e eleitores - enfim, todos nós - deveriam aprender um pouco com Nascimento e Fraga. Não precisamos renunciar às nossa crenças para nos respeitar. Reconhecer o outro, por via do respeito à diferenças, renderia frutos muito melhores para reforçarmos nossa maturidade democrática, do que o caminho superficial e vil dos ataques radicais de ambas as partes. Não precisamos abandonar nossas crenças. Necessitamos apenas aprender que os demais têm direito de sustentar as suas, mesmo com todas as restrições que podemos ter quanto ao que defendem.

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