quinta-feira, 25 de agosto de 2011

O que os homens querem

Uma das tendências que mais observo no campo das artes, dos espetáculos em geral, especialmente no teatro e na televisão, é o da total inclinação do campo da ficção e da dramaturgia de focar o universo feminino, em todas as suas nuances. Não importa se sob um ponto de vista dramático ou cômico, o "mundo das mulheres" reina soberano. O paradigma "Sex & the City" ou dos (pejorativamente) chamados "programas mulherzinha" mostra-se cada vez mais profícuo em termos de alternativas de entretenimento ao público e, ao mesmo tempo, ajudam a moldar esteriótipos em torno do homem e da mulher.



Geralmente, as mulheres aparecem como cada vez mais independentes, senhoras de si, mas sem abdicar do sonho romântico. Os homens são, na maior parte das vezes, seres superficiais que só pensam em sexo e nada mais, agindo quase sempre como canalhas ou simplesmente idiotas, até aparecer o "homem-exceção", o que presta e faz por merecer a "mocinha". Mostram-se também inseguros em relação à ascensão profissional do sexo oposto e, igualmente, alheios aos seus anseios românticos. Enfim, são seres insensíveis, inseguros e desorientados.


Será que nós homens somos realmente tao óbvios, superficiais e desinteressantes assim? E será que as mulheres estão realmente tão senhoras de si? Essas categorias simplistas merecem crédito?


Os homens estão desorientados porque querem saber o que as mulheres desejam de fato. Sabemos nós homem, no fundo, que apesar de toda retórica de autonomia e liberação, a famosa "segurança" é ainda uma fator essencial na escolha de nossas parceiras. A mulher busca no homem suas potencialidades, o quanto ele pode oferecer para agregar algo ao seu projeto de vida. Pouco vale seus gostos musicais, seu diretor favorito de cinema se o homem não tiver o "algo a mais" para agregar às ambições pessoais da mulher na materialização do futuro que ela projetou desde tenra idade para si. Não falo necessariamente de dinheiro, mas do olhar aguçado feminino sobre as ferramentas (que podem ser intelectuais, profissionais, culturais, financeiras etc) que o homem escolhido deve possuir para se tornar merecedor da escolha e gozar do privilegiado status de intrumento que irá ajudar a mulher a tornar realidade suas ambições pessoais.


Creio que aos homens interessaria saber também que são queridos e escolhidos simplesmente pelo o que são, pela forma com que riem, pelas bobagens que falam, pelas besteiras que fazem, pelas piadas sem graça que contam quando bebem demais, pelos desenhos animados que ainda gostam, por assistirem Chaves ou Pânico na TV, pelas inseguranças que sentem (sim, sentem sim!) e não (principalmente) pelas perspectivas de futuro que têm a oferecer por pretensamente gozarem de determinada posição social, profissional e/ou intelectual.


Os homens sabem que, mais para as mulheres do que para eles, a "virilidade" é identificada com alguma espécie de poder que o homem deve deter. A admiração feminina pelo homem passa por essa especie de detenção de prestígio: não basta que ela o admire, a sociedade (ou os segmentos sociais com os quais a mulher interage) precisa admirá-lo também. Saber disso talvez torne os homens mais calculistas, frios, além de céticos em relação aos reais desejos românticos das mulheres. Sabem que, na realidade, não são tão isentos de interesses assim.


Quantas vezes uma mulher se interessa logo em perguntar a um homem o que ele faz e onde ele trabalha? Não é mera desculpa para um papo despretensioso - para um homem pode até ser. Não. Para as mulheres equivale ao pedido da "credencial": consiste em investigar se aquele homem é ou não portador da feliz chave para a "brincadeira de casinha" que tanto persegue. Enfim, será que as mulheres amam mais os homens ou os sonhos que (erradamente) pensam que eles têm a obrigação de oferecer para elas? A "admiração" é mais pelo que o homem é ou pelo que ele têm?


Obviamente, tudo que aqui acabo de escrever carece de nuances e cai também no perigo e no erro do esteriótipo. Mas como o objetivo é meramente provocador, resolvi assumir o risco.

4 comentários:

Leop disse...

Carlos Maurício, ótimo texto, mas como você mesmo ressalvou ao final, tem como principal qualidade a de ser provocador, uma vez que apresenta apenas um lado da questão. De todo modo, posso dizer que da minha parte penso em sexo, sim, mas em otras cositas también! E nessa trajetória de afirmação da mulher pela qual o século XX foi a principal testemunha, um dos direitos que elas alcançaram também o foi de exteriorizar o lado "masculino" delas, qual seja, a de pensar em sexo e otras cositas también!

Lúcia Motta disse...

Carlos Maurício, gostei da sua provocação. Não que tenha alguma opinião formada sobre o tema. Mas, por achar que ser mulher não me torna assim tão diferente dos homens. Inseguranças femininas são tais apenas porque culturalmente devemos expressar tais inseguranças. Eu, de meu lado, não tenho receio em dizer das minhas inseguranças e da minha falta de aptidão para "coisas de mulherzinha" como decorar e arrumar casa, cozinhar e assemelhados; prefiro, muito, trabalhar e andar de moto - o que não me torna menos mulher. Para mim o departamento doméstico poderia muito bem ser responsabilidade dos companheiros, conheço e convivo com alguns que adoram sem medo. Adoraria, também, que os homens me acompanhassem nas comédias românticas sem medo de chorar. Sei que eles existem em quantidade, muitas vezes escondidos atrás dos tais estereótipos. São os melhores. Quanto ao sexo, ahhh esse tema é uma unanimidade.

Carlos Maurício Ardissone disse...

Obrigado Leopoldo e Lúcia querida. Confesso que adoro fulmes estilo "Meg Ryan" e vejo todos com a minha noiva!!! rs. Claro que foi uma provocação e o texto também está carregado de esteriótipos. Mas é que, por vezes, já senti vontade de ser mais potencialmente querido pelas coisas de que gosto do que pelo que eu aparento ser. Grande Elis quando já cantava "as aparências enganam". E como enganam não??

Gabriela Matarazzo disse...
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