sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Cidade Partida


“Só falta reunir a zona norte à zona sul. Iluminar a vida já que a morte cai do azul”.

Lulu Santos em “O Último Romântico”.


As eleições municipais estão servindo para demonstrar que o Rio de Janeiro, além da “cidade maravilhosa”, é também a “cidade partida” - em alusão ao título do famoso livro de Zuenir Ventura (capa em destaque). No primeiro turno, a clivagem religiosa entre evangélicos neo-pentecostais e católicos ficou clara com a alta rejeição ao candidato Marcelo Crivella. O índice bem maior de católicos no eleitorado foi claramente responsável pela não ida do “ex-bispo” da Igreja Universal ao segundo turno.

Agora que os holofotes estão concentrados apenas em Eduardo Paes e Fernando Gabeira, outra fratura da sociedade carioca é exposta, esta de ordem social que colocaria, de um lado, os eleitores da Zona Sul, em sua maioria pró Gabeira, e, de outro, os eleitores do subúrbio (Zonas Norte e Oeste) que apoiariam Paes. Nota-se, por parte da imprensa escrita, uma certa tendência a querer reforçar esta divisão, ao invés de se esforçar por questioná-la, por seu simplismo e artificialismo. Exemplo disto foi a divulgação nos principais jornais da cidade de uma suposta declaração preconceituosa de Fernando Gabeira em relação à vereadora Lucinha, do PSDB, campeã de votos na Zona Oeste, num suposto diálogo do canditato com outro vereador recém reeleito, que teria sido ouvido por um repórter. Gabeira teria chamado a vereadora de “analfabeta política” e “suburbana”. Ora, ainda que esta declaração seja verdadeira, do que interessa aos eleitores o que o candidato fala numa conversa íntima com um interlocutor? Nós mesmos não cometemos “escorregadas politicamente incorretas” quando conversamos dentro de um ciclo mais íntimo de conhecimento ou amizade? Contamos piadas de portugueses, e nem por isso nos tornamos preconceituosos e xenófobos. Mas, infelizmente, é este o cenário em que vivemos: o patrulhamento da “massa ignara” do politicamente correto tende a imbecilizar o pleito e desviar o foco das questões que mais interessariam aos eleitores cariocas: as plataformas de governo dos dois candidatos, seus perfis políticos e trajetórias pregressas. Fonte da imagem: http://i.s8.com.br/images/books/cover/img5/59045.jpg.

Um comentário:

Marina Amaral disse...

Olá, Carlos! Concordo que vimos muitas distorções nessas eleições e o pior, situações que tiram o foco real da discussão política.

* Não conheço o livro... vou dar uma espiadinha.

Bom fim de semana.
Grande beijo.
Marina A.